A regulamentação dos entregadores pode acabar com o delivery no Brasil
Apps de delivery investem fortunas em bônus, promoções, expansão, mas não em regulamentação, porque pode acabar com o modelo do negócio
iFood investe R$ 17 bilhões, 99Food anuncia R$ 2 bilhões, mas ninguém toca no problema que pode acabar o modelo de entrega no Brasil: regulamentar entregadores custaria mais que o faturamento inteiro
O que está acontecendo: iFood anuncia R$17 bilhões de investimento para 2026. 99Food dobra investimento para R$2 bilhões após reunião com Lula. Todos oferecem bônus milionários para entregadores.
O que essas empresas deveriam estar fazendo: resolvendo a regulamentação de entregadores: uma questão que pode custar a sobrevivência dessas marcas no país.
Por que importa: quando essas empresas precisarem acertas as contas dos trabalhadores CLT, R$ 19 bilhões de investimento se tornarão irrelevantes. O modelo inteiro pode colapsar.
iFood e 99 food investem em tudo, menos no problema real
O investimento de R$ 17 bilhões em operações anunciado pelo iFood para 2026 deve ser direcioanado para expansão de cidades, bônus para entregadores, infraestrutura tecnológica, marketing e aquisição de clientes.
Após reunião com Lula, a 99Food que faria um investimento como esse no Brasil de apenas R$1 bi, resolve dobrar o valor para R$2 milhões a fim de garantir R$ 250/dia para entregadores como bônus a cada 20 viagens, expansão para Rio e Baixada Fluminense e pacotes zero comissão para restaurantes.
Na onda dos bônus, o iFood fez uma parceria com Uber para dar R$ 500 em bônus por entregador por 4 semanas de "promoção" válida em várias cidades.
Nenhuma das marcas no entanto, investe em regulamentar as questões trabalhistas dos entregadores. Por quê?
Não existe app de delivery lucrativo com entregadores CLT no Brasil. Os números simplesmente não fecham.
Quanto realmente custa um entregador CLT?
Entregador PJ (modelo atual):
- Paga por entrega: R$ 5-8
- Sem garantias trabalhistas
- Sem custos fixos para o app
- App só paga quando há entrega
Entregador CLT (realidade legal):
- Salário mínimo: R$ 1.412 (2025)
- FGTS (8%): R$ 113
- INSS patronal (20%): R$ 282
- Férias + 1/3: R$ 157/mês
- 13º salário: R$ 118/mês
- Vale-transporte, alimentação, seguro: ~R$ 400/mês
- Custo total mensal: ~R$ 2.482
iFood opera com aproximadamente 300 mil entregadores ativos no Brasil.
Se todos fossem CLT:
- 300.000 entregadores x R$ 2.482/mês = R$ 744,6 milhões/mês
- R$ 8,9 bilhões/ano apenas em custos trabalhistas
A empresa faturou um valor estimado de R$ 8 bilhões em 2024. Regulamentar entregadores consumiria mais que o faturamento inteiro.
Um negócio que se mantém pela parceria
Apps chamam entregadores de "parceiros" ou "autônomos". No entanto, a relação entre a empresa e esses parceiros se alinham aos critérios da CLT:
- Subordinação: app define horários, rotas, aceite de pedidos
- Habitualidade: entregadores trabalham regularmente
- Onerosidade: recebem pagamento pelo serviço
- Pessoalidade: não podem ser substituídos livremente.
O mercado está exigindo regulamentação das marcas de delivery
Em 2021, o Uber perdeu caso histórico no Reino Unido e teve que classificar motoristas como workers. Na Europa, desde o ano passado as leis estão se reconfigurando para regulamentar o trabalho dos entregadores de plataformas digitais.
Pense bem antes de crescer com um modelo de negócio insustentável
iFood, 99 e Uber construíram impérios sobre modelo trabalhista insustentável. Modelos não regulamentados podem ter data de validade.
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