Nova onda de layoffs: o que mudou para sempre no mercado
Entre 2020 e 2023, o mercado recebeu a onda de layoffs nas big techs de forma mais positiva que agora, em 2025. Veja o que mudou.

Em 2025, o mundo corporativo vive uma transformação radical do seu modo operacional. O que antes era ocasional e reativo, agora se torna estruturado: os layoffs em massa deixaram de ser ajustes de rota para assumir o papel de alavancas nas organizações.
Nas maiores empresas de tecnologia do planeta, cortes atingiram mais de 80 mil profissionais apenas nos oito primeiros meses do ano, enquanto setores industriais e financeiros absorvem a mesma lógica de reestruturação, guiada menos por crises econômicas e mais por decisões friamente calculadas de automação, reengenharia e realocação do capital humano para as demandas da economia digital.
Neste ambiente, CEOs enxergam o corte de custos e o redirecionamento de investimentos para inteligência artificial como fatores críticos de sobrevivência, em um cenário onde empresas como Microsoft, Oracle e Salesforce somam bilhões de dólares em recursos destinados a novas plataformas digitais, ao mesmo tempo em que eliminam milhares de postos tradicionais.
A volatilidade dos mercados se mistura à maturidade das tecnologias, promovendo um ciclo de reinvenção incessante e mudando, de forma irreversível, a experiência dos profissionais, o status da empregabilidade e as expectativas quanto ao papel do trabalho na geração de valor.
Entenda as principais mudanças irreversíveis desse cenário.
De 2020 a 2023: expansão rápida e enxugamento pós-pandemia
Após a pandemia de 2020, o mercado de tecnologia viveu uma forte expansão, com empresas contratando em ritmo acelerado para responder à explosão da demanda digital.
No entanto, a partir de 2022, viu-se uma reversão abrupta: só em 2022 e 2023, mais de 250 mil profissionais foram demitidos globalmente apenas no setor de tecnologia, com anúncios diários de cortes que chegavam a 1,6 mil desligamentos por dia em 2023.
Esse movimento, inicialmente, foi justificado por ajustes frente à estagnação econômica, inflação persistente e uma normalização da demanda digital após o excepcional crescimento pandêmico.
Durante esse ciclo, profissionais demitidos passaram a adotar uma postura pública positiva nas redes sociais: postagens elogiosas e narrativas de “recomeço” eram frequentes, com o objetivo de sinalizar adaptabilidade diante do mercado e ampliar as oportunidades de recolocação, especialmente relevante diante do aumento global do desemprego qualificado.
2024-2025: layoffs orientados por IA e eficiência
O cenário de 2024 e 2025 marca uma nova etapa desse processo. As razões tradicionais, como crise macroeconômica e reorganização do portfólio, se juntam a impactos mais diretos da automatização e dos programas de inteligência artificial.
Mais de 650 mil profissionais de tecnologia foram desligados entre 2022 e 2025, com um crescimento dos cortes acentuado no último ano.
Só em 2025, mais de 83 mil profissionais de tecnologia já perderam seus empregos, impulsionados principalmente pela substituição de funções por IA, grande exemplo disso é a Salesforce, que trocou engenheiros de suporte por algoritmos.
Empresas como Microsoft, Meta, Google e Amazon não apenas continuam os cortes, como explicitamente declaram a prioridade do investimento em IA em detrimento de headcounts elevados.
Investimentos superiores a US$ 80 bilhões em infraestrutura para IA são recorrentes entre as principais big techs. Menos “gordura”, mais performance: demissões atingem cargos de diversos níveis, não mais apenas funções de baixo desempenho.
Mercado financeiro e produtividade máxima: o caso do Itaú
Outro fenômeno da atualidade é o uso intensivo de telemetria e vigilância remota para avaliação de produtividade, como exemplificado pelo Itaú Unibanco ao demitir cerca de mil funcionários em setembro de 2025, após monitoramento detalhado de cliques, tempo em tela e atividades digitais em home office.
Empresas buscam alinhar produtividade e cultura, refletindo uma tendência de controle mais estreito e menos tolerância a desvios de performance, inclusive em regimes híbridos e remotos. O impacto foi sentido em todo o setor bancário e reacendeu debates sobre privacidade e critérios justos de avaliação.
Mudança de mindset entre as fases de layoffs
A reação do mercado de trabalho mudou consideravelmente de uma onda para a outra:
- Aceitação da automação: se antes o layoff era visto principalmente como ajuste financeiro, agora há consenso de que o processo de automação e IA eliminará certas funções inexoravelmente. O foco, tanto para empresas quanto para trabalhadores, se volta à resiliência digital e à adaptabilidade de habilidades.
- Carreiras de alta rotatividade: o estigma do layoff se perdeu em parte. Muitos talentos reconhecem os cortes como fenômenos sistêmicos, não pessoais, e empresas buscam ativamente profissionais com experiência em grandes players, mesmo que desligados recentemente.
- Gestão de marca pessoal: a postura estratégica e positiva nas redes — tão visível no ciclo anterior, agora se consolida como regra não apenas para a recolocação, mas também para manutenção do networking e reputação, inclusive em segmentos não tecnológicos.
- Estresse e Saúde Mental: entre os “sobreviventes” nas empresas, cresce o estresse: mais de 60% declararam aumento de ansiedade pós-layoff, potencializando o risco de burnout.
- Dinamismo e Eficiência Lean: o novo “normal” empresarial é operar com menos pessoas, equipes mais integradas e foco total em eficiência, inovação e investimento em IA, moldando uma cultura organizacional centrada em flexibilidade e aprendizado contínuo.
O que vem depois da nova onda de layoffs
O ciclo recente indica que layoffs massivos, antes marcados por justificativas econômicas ou pontuais, são agora uma parte estrutural das estratégias de transformação digital.
O mercado não só aceita como espera reestruturações periódicas, o desafio para as lideranças é manejar esse processo com mais clareza, justiça e foco no impacto humano e reputacional.
Profissionais, por sua vez, devem estar preparados para navegar ambientes de alta volatilidade, gerindo ativamente suas marcas e investindo em reciclagem contínua.
A tendência para 2026 e além é: equipes menores, mais especializadas, digitalmente fluentes e alinhadas a processos orientados por dados, cenário em que tanto empresas quanto carreiras serão avaliadas por sua capacidade de adaptação e entrega em contextos de transformação acelerada.