O lançamento do iPhone 17 foi primoroso! Muito mais do que ele.

Texto do autor Ricardo Poli para o Bring me More, coluna especial do BRING ME DATA, que traz a visão de grandes nomes do mercado.

O lançamento do iPhone 17 foi primoroso! Muito mais do que ele.
Imagem: Apple Newsroom

É raro de acontecer, mas acontece. A sugestão de pauta para confecção da coluna dessa semana partiu de quem a escreve. Após romper a complexa resistência das meninas da MACFOR, esse velho professor de marketing rabugento alcançou seu objetivo, ainda que pouco tenha sobrado de suas forças. Transpor as barreiras daquilo que se configura como consolidado é sempre um desafio que vem acompanhado de UM preço doloroso a se pagar. Por outro lado, existem ocasiões em que fugir desse desafio pode tem preço fatal.

Tendo isso como verdade, ouso afirmar que o lançamento da última versão do Iphone é um exemplo concreto desse pensamento. Como sempre, o novo brinquedinho da Apple chegou ao mundo com pompa e louvor, com data definida e hora marcada. Nenhuma novidade nesse sentido. Como de costume, grandes expectativas foram forjadas em relação aos novos atributos e benefícios de seu modelo 17. A Apple sabe, como ninguém, fazer isso: criar anseios e fabricar novos “features” sedutores em cada lançamento que faz. Nada poderia ser mudado nisso, certo? Afinal, a fórmula vem funcionando há tempos...

Mas nada como a realidade para subverter aquilo que já está consolidado. Ainda mais quando tal realidade surge de quem mais deseja desfrutar das novas funcionalidades do Iphone. Por conta da imensa potência da marca de seu fabricante, tudo que é novo se descobre rápido e se divulga a uma velocidade estonteante. Isso pode ser bom ou ruim. Se for bom, nunca agradará a todos. Se for ruim, sempre desagradará a quase todos. Assim é a vida. E a Apple sabe muito bem disso.

Assim sendo, como se pode justificar a imensa quantidade de reclamações em relação aos atributos básicos do 17? Logo após seu lançamento, notícias e depoimentos de usuários brotaram dos quatro cantos do planeta à velocidade da luz, comentando a respeito da fragilidade de sua carapaça traseira (agora também na cor laranja) e do vidro de sua parte frontal. Pelo preço que se paga, o fenômeno se transformou em algo semelhante a uma traição amorosa. Afinal, como sempre diz esse escrevinhador metido a colunista para seus alunos nas aulas sobre posicionamento, o preço de um produto é o próprio produto.

Nem é necessário lembrar que a Apple sempre foi reconhecida pela excelência na fabricação dos itens de seu portifólio, bem como pela comunicação mercadológica atrelada a eles. Afinal, a comunicação de um produto é o próprio produto. Até duas ou três semanas atrás, seria inimaginável imaginar que a versão 17 de seu clássico smartphone chegasse ao mundo com os problemas mais básicos que podem existir em um produto dessa categoria. Vidro frontal que facilmente quebra ou arranha e invólucro que risca ou amassa em qualquer “batidinha” é algo que não se esperava mais de um Iphone.

Os relatos são inúmeros. As colunas de tecnologia de sites, blogs, jornais e revistas digitais se esbaldaram na produção de conteúdo a respeito desse fenômeno. Chegaram até mesmo a entrevistar esse que escreve aqui, ainda que suas palavras cheguem somente para acidentais leitores. A abordagem ocorreu por conta da formação em engenharia. Mal sabia a ingênua colunista de “tech” do Estadão que se tratava de um engenheiro de alimentos que pouco exerceu a profissão. E ao saber que a especialidade da engenharia era marketing, quase desistiu da entrevista...

Entretanto, sua caridade impediu o abandono e permitiu a defesa da ideia de que não se trata de um problema de engenharia, mas fundamentalmente de marketing. Empresas de tecnologia se tornaram reféns daquilo que se determina como inovação, um conceito etéreo, difuso e mal parametrizado. Em função disso, se obrigam a lançar novas versões de produto a uma velocidade que, muitas vezes, viola os princípios mercadológicos. Em tempos atuais, lançar uma versão de smartphone que amassa com facilidade e que a tela arranha com o pouso de um mosquito é um erro primário de marketing. Pelo menos para a Apple...

Isso poderia até ser esperado no caso de um fabricante de aparelhos celulares que sabidamente tem investimentos modestos dedicados a pesquisa e desenvolvimento tecnológico, poucos recursos para testes ligados a controle de qualidade ou que seja conhecido pela oferta de produtos tidos como quase descartáveis que, por conta disso, tem um preço “baratinho”. É esse o caso da empresa da maçã? A Apple não teve tempo de diagnosticar problemas no Iphone 17 que foram descobertos por seus usuários dias depois de seus lançamento?

A obrigatoriedade de um calendário de inovação passou a ser algo tóxico para gestão de produtos e negócios, principalmente aqueles ligados a tecnologia. Há de se repensar esse princípio e há de se inspirar em empresas que ofertam produtos que pouco se alteraram desde quando nasceram. A clássica caneta Bic, o icônico Chanel nº5, a versão básica de Omo e o tradicional Red Bull são alguns bons exemplos a serem considerados. Algum aluno “participativo” em sala de aula certamente ousaria questionar que tais produtos não são tecnológicos. A ele um professor de marketing “carinhoso” responderia: “E daí?”. Ou ainda: “Será mesmo?”.

Todo esse contexto leva a constatar que a agenda da dita inovação considera que “o lançamento é mais importante do que aquilo que se lança.”

Ouso considerar que existem boas exceções.
Em tempos modernos, é raro de acontecer, mas acontece.

Ricardo Poli é professor, palestrante, provocador, piadista e colunista da BRING ME DATA.

Cadastre-se para receber a BRING ME DATA toda segunda para não perder as principais novidades e tendências do mercado com opiniões de grandes especialistas.

As opiniões aqui contidas são de responsabilidade de seu autor e não refletem necessariamente a opinião da Bring Me Data