O novo boom dos 50+ no agronegócio
Devemos falar com as novas gerações, sem esquecer da parcela mais experiente que controla os R$2,72 trilhões do agro brasileiro.
Os millennials são relevantes para o agro e já temos investido milhões para impactá-los. Mas não podemos ignorar nem por um momento a parcela mais experiente que , de fato move os R$2,72 trilhões do PIB agrícola nacional.
Não é uma tendência futura, os números indicam o cenário atual:
- Mais de 40% dos produtores rurais brasileiros têm 55 anos ou mais
- 46,6% da população ocupada na agricultura tem idade acima de 55 anos
- A faixa etária entre 55 e 65 anos aumentou quatro pontos percentuais, passando de 20% para 24% da população rural
E aqui está a parte mais interessante: 85% da renda do agronegócio brasileiro é gerada por apenas 16% das propriedades rurais. Quem está no comando dessas propriedades, realmente, são os produtores mais sênior.
A geração que ainda move o agro brasileiro
Além dos "jovens inovadores no campo", observe a realidade do agronegócio brasileiro. O PIB do agronegócio atingiu R$2,72 trilhões em 2024, representando 23,2% da economia nacional. E quem pilota essa máquina de fazer dinheiro?
Produtores experientes. Com mais de cinco décadas de vida.
84% dos agricultores brasileiros já utilizam ao menos uma tecnologia digital como ferramenta de apoio à produção. Eles investem, inovam e decidem.
E principalmente: eles compram.
Enquanto a agricultura familiar (que representa 77% dos estabelecimentos) gera apenas 23% da renda do setor, os grandes produtores, majoritariamente na casa dos 50, 60, 70 anos, controlam o grosso dos negócios.
Os pequenos estabelecimentos representam 77% dos produtores agropecuários mas compõem apenas 23% do valor bruto das receitas geradas no campo.
As disparidades do marketing no agro
Por um lado, temos um setor que movimenta quase R$3 trilhões por ano, dominado por uma geração madura, financeiramente estabelecida e tecnologicamente adaptada.
Por outro lado, estamos vivendo em uma grande onde de marketing exclusivamente voltado a impactar o "jovem empreendedor rural" como se fossem a força dominante do setor.
38% dos produtores rurais ainda não pensaram na sucessão familiar. Isso significa que essa geração 50+ não está de saída. Ela está forte no comando pelos próximos 15, 20 anos.
A longevidade rural
É evidente o fenômeno global que os economistas chamam de "economia prateada" ou "silver economy". Aqui, ela tem características únicas e oportunidades trilionárias.
Diferentemente dos 50+ urbanos, os produtores rurais maduros não estão se aposentando. Para se aposentar como produtor rural, é necessário atingir 55 anos (mulheres) ou 60 anos (homens) e comprovar 15 anos de atividade rural.
Mas mesmo com o direito à aposentadoria, muitos continuam ativos, reinvestindo e expandindo.
Mais de 60% dos produtores rurais têm ensino superior ou médio completo. Não estamos falando de uma geração "desconectada". Estamos falando de profissionais qualificados que escolheram a agricultura como negócio.
Esta geração passou pelos ciclos de modernização do agro brasileiro. Eles viveram a revolução da soja no Cerrado, a expansão da fronteira agrícola, a chegada do GPS, dos drones, da agricultura de precisão. Eles não temem tecnologia, pois já têm se adaptado a ela por décadas.
Oportunidades imperdíveis para o agro 50+
Mercado de modernização contínua
Apenas 850 mil das 5,3 milhões de propriedades rurais têm acesso a tecnologias de ponta. Quem são os donos das grandes propriedades com capacidade de investimento para fechar essa lacuna? Os produtores 50+.
Eles não estão comprando sua primeira máquina agrícola. Estão trocando a frota. Não estão instalando o primeiro sistema de irrigação. Estão upgradando para agricultura de precisão 4.0.
O boom da sucessão planejada
25% dos produtores já têm um plano de sucessão definido e em andamento. Isso representa investimentos massivos em estruturação patrimonial, tecnologia e capacitação.
Quem está preparando essas transições? Produtores maduros. Com capital. Com urgência de decisão.
O agro premium
Esta geração 50+ não compete apenas em volume. Há uma crescente demanda por sustentabilidade, rastreabilidade e agregação de valor. Eles têm capital para investir em certificações, processos diferenciados e marca própria.
É a mesma lógica da economia premium urbana, mas aplicada ao campo.
Como falar com quem mais tem poder aquisitivo
Estes homens e mulheres comandam operações de dezenas, às vezes centenas de milhões de reais.
Eles querem:
- Dados técnicos precisos
- ROI calculado em planilhas
- Cases de sucesso comprováveis
- Suporte técnico especializado
- Relacionamento de longo prazo
O respeito pela experiência
60% das famílias de agricultores estão no ramo há mais de 30 anos. Isso significa conhecimento acumulado, network consolidado e reputação construída.
Comunicação multicanal inteligente
Sim, eles usam WhatsApp para negociar commodities e acessam plataformas digitais para cotações. Mas eles também valorizam:
- Visitas técnicas presenciais.
- Eventos especializados (não "experiências").
- Literatura técnica impressa de qualidade.
- Relacionamento com equipes comerciais estáveis.
CASES DE SUCESSO: QUEM JÁ ENTENDEU
Algumas empresas já perceberam o filão e estão colhendo os frutos:
John Deere: a inteligência tecnológica
A John Deere investe pesadamente em inovação agrícola, reconhecendo que a tecnologia se torna aliada essencial na busca por produção sustentável e eficiente. Seus equipamentos não são vendidos como "gadgets" para jovens, mas como investimentos estratégicos para operações consolidadas.
Grandes tradings: o relacionamento premium
Empresas como Cargill, JBS e Viterra focam em relacionamentos de longo prazo com grandes produtores, oferecendo não apenas compra de commodities, mas soluções financeiras, logísticas e técnicas integradas.
Agtechs inteligentes
43% das startups do agro já faturam mais de R$1 milhão anual e um terço vende para outros países. As mais bem-sucedidas não vendem "inovação disruptiva". Vendem "eficiência comprovada" para quem já conhece o negócio.
O que esperar para 2030
As projeções são absolutamente claras. O PIB do agronegócio pode representar 29,4% do PIB brasileiro em 2025. O governo projeta crescimento de 3% ao ano para 2024-2026 na agroindústria e 6% ao ano entre 2027-2033, esperando atingir R$ 4 trilhões até 2033.
E quem vai liderar esse crescimento? A mesma geração que está liderando agora.
23% dos produtores afirmam que não haverá sucessão familiar e apenas 18% planejam a transição para os próximos anos. Isso significa que a geração atual permanecerá no comando por muito mais tempo do que as projeções tradicionais sugerem.
Saiba mais sobre a jornada digital no agro nesta conversa com Ivan Moreno, CEO da Orbia, no podcast Rotação de Culturas.