Os maiores desafios do recrutamento no agronegócio: como atrair e reter talentos no setor mais forte do Brasil

Uma conversa reveladora com Bruno Novaes, especialista em headhunting para o agronegócio, sobre os obstáculos e oportunidades na contratação de profissionais qualificados para o setor que move a economia brasileira.

Os maiores desafios do recrutamento no agronegócio: como atrair e reter talentos no setor mais forte do Brasil

🎯 O que você vai ver neste artigo:

  • Por que 80% dos profissionais urbanos rejeitam oportunidades no agronegócio
  • Como superar a barreira geográfica que afasta talentos das fronteiras agrícolas
  • Estratégias de marketing digital aplicadas ao recrutamento rural
  • O perfil do profissional ideal além da competência técnica
  • Cases reais de sucesso e fracasso na atração de talentos

Imagine: você é um product manager em São Paulo, trabalhando para uma das maiores fintechs do país. Salário de seis dígitos, stock options, e todas as comodidades urbanas ao seu alcance.

A proposta: trabalhar no interior do Mato Grosso, desenvolvendo aplicativos para otimizar a produção de soja que alimentará milhões de pessoas.

Sua reação: Provavelmente, um "não" imediato.

E é exatamente aqui que mora o maior desafio do recrutamento no agronegócio brasileiro atual.

Se você é como a maioria dos profissionais urbanos, provavelmente pensaria duas vezes. E é exatamente aqui que reside um dos maiores desafios do recrutamento no agronegócio atualmente.

No episódio do podcast "Rotação de Culturas" com Bruno Novaes, um dos principais headhunters especializados em agronegócio do Brasil, a conversa foi sobre isso. Com quase uma década de experiência recrutando para o setor, Bruno nos revelou insights fascinantes sobre como o agro está enfrentando sua maior transformação desde a revolução verde.

O Profissional que decodifica talentos para o agro

Bruno Novaes não é o típico headhunter que você imaginaria. Formado em engenharia elétrica, começou sua carreira vendendo equipamentos de automação antes de descobrir sua verdadeira vocação no recrutamento. Essa trajetória não convencional se tornou sua maior força.

"Quando eu comecei a recrutar, eu vim muito pelo propósito do recrutamento", revela Bruno. "Na época de 2014, 2015, tinha uma crise muito grande aqui no Brasil em relação a emprego, a demissões acontecendo, setores automotivos, químicos passando por dificuldades."

Foi nesse momento de turbulência econômica que Bruno descobriu que o recrutamento poderia ser muito mais do que simplesmente preencher vagas.

Era sobre conectar pessoas com propósito, sobre ajudar profissionais a encontrarem dignidade através do trabalho, especialmente em um setor que tem o poder de alimentar o mundo.

A descoberta de propósito no agronegócio

O que realmente seduziu Bruno a se especializar no agronegócio foi a percepção de que este setor oferece algo que poucos outros conseguem: propósito genuíno.

"Quando eu conectei isso com o agronegócio, tem muito a ver também com o propósito de, cara, a gente no agronegócio tem uma questão muito forte de a gente precisa alimentar as pessoas de maneira sustentável, a gente precisa fazer a diferença no mundo", explica.

Esta conexão entre serviço individual e impacto global se tornou o fio condutor de sua abordagem ao recrutamento para agronegócio. Não se trata apenas de encontrar pessoas qualificadas; trata-se de encontrar pessoas que se conectem com a missão maior do setor.

O estigma urbano é o maior obstáculo do agronegócio

Se há uma barreira que se destaca acima de todas as outras no recrutamento para o agronegócio, é o estigma urbano. Bruno nos conta uma história que ilustra perfeitamente este desafio:

"A gente foi fazer algumas vagas voltadas para a construção de aplicativos, a gente precisava de alguns product managers, product owners relacionados à gestão ágil de projetos para desenvolvimento de aplicativos e tecnologia. A grande maioria dos PMs que a gente abordava, todos eles falavam: 'cara, não, olhe para o agronegócio como opção de carreira. Não, eu não quero trabalhar com agronegócio.'"

Este estigma não é acidental. É resultado de décadas de má comunicação e falta de entendimento sobre o que realmente representa o agronegócio moderno. Profissionais urbanos, especialmente aqueles em tecnologia e finanças, frequentemente veem o setor através de lentes distorcidas.

A mudança necessária

O agronegócio moderno virou o jogo completamente. Como Bruno observa com ironia:

"Antigamente o pessoal falava: 'cara, se você não estudou, você vai trabalhar na lavoura'. Hoje é ao contrário: se você estudou, você vai trabalhar na lavoura, porque do contrário, você não consegue mais operar os tratores."

A realidade atual do agronegócio:

  • Drones coletam dados de plantações em tempo real
  • Tratores autônomos navegam por GPS com precisão centimétrica
  • IA otimiza uso de fertilizantes e defensivos
  • Big Data prevê safras e otimiza logística
  • Biotecnologia desenvolve sementes mais resistentes

É um setor que combina tradição milenar com inovação de ponta. Não é sobre plantar feijão no quintal: é sobre alimentar 8 bilhões de pessoas de forma sustentável.

O desafio geográfico: quando o talento se recusa a se mover

Além do estigma, existe outro obstáculo significativo: a barreira geográfica no agronegócio. As oportunidades mais interessantes frequentemente estão localizadas a centenas de quilômetros dos grandes centros urbanos.

"Hoje nós vemos os grandes centros como consumidores do agro, só que o agro em si acontece a mais de mil quilômetros da capital", observa Diogo durante a conversa. "E quando a gente precisa levar pessoas que são boas para essas regiões, a gente também tem uma grande dificuldade."

Este desafio se intensificou após a pandemia. Bruno nota uma mudança significativa no comportamento dos profissionais, incluindo aqueles já dentro do agronegócio:

"No passado o agro, o agrônomo, ele já saía da faculdade sabendo que ele precisava ter mobilidade e ele tinha essa disponibilidade. Era pré-requisito, todo mundo já sabia. Hoje, você já pega jovens que você fala: 'cara, vamos pra fronteiras agrícolas, vamos trabalhar no Pará, vamos trabalhar no Piauí.' Cara, é muito, muito difícil de você levar."

A nova geração e suas expectativas

A geração atual de profissionais valoriza flexibilidade, qualidade de vida e propósito de maneiras que gerações anteriores não priorizavam. Eles experimentaram o trabalho remoto durante a pandemia e agora questionam a necessidade de compromissos geográficos rígidos.

Isso criou um paradoxo interessante: as regiões onde o agronegócio mais precisa de talentos qualificados são exatamente aquelas que esses talentos consideram menos atrativas do ponto de vista de qualidade de vida urbana.

A solução está no marketing como game changer

Uma das revelações mais importantes da conversa foi a conexão que Bruno faz entre recrutamento no agronegócio e marketing digital. Para ele, atrair talentos é fundamentalmente um processo de vendas.

"Eu olho para o marketing digital e falo: cara, todos os recrutadores, toda a estratégia de recrutamento e seleção, atração de talentos, deveria passar por uma boa estratégia de marketing digital", afirma Bruno.

Esta abordagem revolucionária reconhece que, assim como produtos precisam ser "vendidos" para consumidores, oportunidades de carreira precisam ser "vendidas" para profissionais qualificados.

Os Três Pilares da Atração de Talentos

Bruno identifica três elementos essenciais para uma "venda" bem-sucedida de oportunidade de carreira:

  1. Lógica: A oportunidade precisa fazer sentido racionalmente
  2. Emoção: Deve haver uma conexão emocional com o propósito
  3. Urgência: O candidato precisa sentir que deve agir agora

"Se você não gerar na pessoa sentimento de: 'cara, faz sentido eu fazer o movimento desse lugar para aquele lugar'; 'eu me conectei emocionalmente com o propósito'; e 'escassez, só existe essa oportunidade, ela está passando agora', a pessoa não sai das etapas de topo de funil até a conversão."

Saiba mais, veja o episódio completo do Rotação de Culturas.