Por que o agronegócio tem tanta dificuldade em formar líderes para as empresas?

Ferrari com motor de Fusca: a urgência de formar líderes preparados no agronegócio

Por que o agronegócio tem tanta dificuldade em formar líderes para as empresas?

O agronegócio brasileiro é, ao mesmo tempo, o motor e o escudo da economia nacional. Responde por cerca de 25% do PIB e sustenta nossa balança comercial em momentos de turbulência.

Mas por trás desse protagonismo existe um paradoxo: apenas 3% dos profissionais do setor estão efetivamente preparados para liderar. É como conduzir uma Ferrari com motor de Fusca.

Essa fragilidade de gestão cobra seu preço. Estima-se que 50 a 70% das demissões no agro decorrem de chefias despreparadas.

A lógica ainda dominante é promover o melhor vendedor para gestor, e o resultado, invariavelmente, é a transformação de um ótimo comercial em um péssimo líder, num clássico exemplo do Princípio de Peter.

Falta de gestão estratégica no agro

O problema se repete em outros pontos da cadeia: enquanto companhias investem até R$ 3 milhões em feiras de negócios, o retorno permanece invisível por falta de métricas claras e liderança estratégica.

Do lado da formação, o quadro é ainda mais alarmante. O Brasil possui 280 instituições oferecendo cursos de agronomia, com 93 mil vagas anuais, mas a produção acadêmica majoritariamente entrega técnicos, não executivos preparados.

Professores repetem conteúdos há décadas, e 80% dos recém-formados acabam migrando para a área comercial por falta de opções de carreira mais sofisticadas. Esse funil mal calibrado compromete o futuro do setor.

Enquanto isso, o cenário global avança em outra velocidade. A China forma doutores em agricultura de precisão em escala inédita. Israel, com equipes multidisciplinares, transforma irrigação em diferencial competitivo mundial.

Estamos diante de uma bomba-relógio: se o Brasil não investir na qualificação de seus líderes, perderá espaço no tabuleiro global justamente no setor em que hoje é referência.

Há, contudo, sinais de mudança. Iniciativas recentes têm mostrado que é possível acelerar a formação de lideranças no agro. Um exemplo é o crescimento de 1000% em pouco mais de um ano de uma escola corporativa voltada exclusivamente para o setor, que reuniu executivos C-level como instrutores práticos e conseguiu preparar mais de 200 profissionais em apenas 12 meses.

Esta escola é a Cumbre Agro. Confira a nossa conversa com o CEO e fundador da Cumbre no podcast Rotação de Culturas, da Macfor.

O recado é claro: quando a formação se conecta com a realidade do campo e da gestão, a curva de impacto é exponencial.

Além disso, o agro precisa encarar suas verdades incômodas. A concentração de gênero no setor comercial, com 90 a 95% de profissionais masculinos, reforça o risco do “groupthink”, a repetição de ideias sem inovação.

Diversidade não é uma pauta de compliance, mas sim uma vantagem econômica: equipes plurais são mais criativas, inovam mais rápido e têm desempenho superior.

Outro ponto crucial é a mentalidade. Todo atleta de elite tem treinador, mas muitos gestores do agro ainda acreditam que já aprenderam tudo. Essa visão não resiste ao novo contexto: em um setor cada vez mais digital, conectado e pressionado por exigências de ESG, a atualização constante não é luxo, mas necessidade de sobrevivência.

O Brasil tem diante de si uma oportunidade rara: transformar o paradoxo atual em uma vantagem competitiva.

Se empresas, investidores e lideranças passarem a investir em formação prática, governança sólida e diversidade, poderão conquistar algo valioso — o monopólio de talentos em um dos setores mais estratégicos da economia global.

O risco é real, mas a oportunidade também. Resta saber se teremos a coragem de trocar o motor antes que a Ferrari quebre no meio do caminho.

Veja mais sobre o assunto na conversa com o CEO da escola técnica Cumbre Agro: